Quando se fala em ter um filho, a atenção normalmente está voltada para a mãe — e com toda razão. A gravidez, o parto e o pós-parto trazem mudanças físicas e emocionais gigantescas para ela. Mas e o pai?
A transição para a paternidade também é cheia de desafios, mas quase ninguém fala sobre isso. As mudanças na rotina, o peso da responsabilidade e a pressão social são enormes, mas a saúde mental do pai raramente entra na conversa. Para se ter uma ideia, enquanto existem incontáveis estudos sobre a saúde mental das mães após o nascimento do bebê, apenas dois estudos abordam esse tema especificamente para os pais.
E mesmo com pouca pesquisa disponível, um estudo francês com 6.299 pais de primeira viagem mostrou que 10% deles apresentaram sintomas clínicos de ansiedade e/ou depressão após o nascimento do filho. Isso significa que, sim, a paternidade impacta (e muito) a vida emocional dos homens, mas quase ninguém fala sobre isso.
Além da falta de suporte, ainda existe outro fator que pesa bastante: as “verdades” que todo mundo adora jogar na sua cara. Frases como “aproveita para dormir agora, porque depois acabou” ou “se prepare para gastar dinheiro como nunca” vão se acumulando e criando um cenário assustador, como se ser pai fosse basicamente assinar um contrato vitalício de exaustão e falência financeira.
Mas será que tudo isso é verdade? Ou será que essas frases só servem para deixar os pais ainda mais sobrecarregados?
A verdade é que muita coisa que dizem por aí sobre a paternidade é puro exagero ou simplesmente não faz sentido. Por isso, vamos desmistificar algumas das maiores mentiras que contam para os pais de primeira viagem e revelar o que realmente acontece quando um bebê chega na sua vida.
Preparado? Então bora quebrar esses mitos!
Mitos e verdades sobre a paternidade
1. “Pai não tem direito de reclamar, porque quem sofre mesmo é a mãe”
O foco principal sempre está na mãe — e com razão. Mas isso muitas vezes gera um efeito colateral: ninguém quer ouvir as dificuldades dos pais. Se um pai fala que está cansado ou que a nova rotina está difícil, pode ouvir um “quer trocar de lugar comigo?” como resposta.
Ser pai é diferente de ser mãe, mas isso não significa que seja fácil. A sociedade cobra que o homem seja forte, provedor e presente, sem dar muito espaço para suas dificuldades emocionais. O problema? Isso só reforça a solidão e o estresse dos pais. E a verdade é que um pai mentalmente saudável também é essencial para o bem-estar do bebê.
2. “Se você está cansado agora, imagina quando o bebê nascer”
Parece que todo mundo adora dar esse “aviso” como se fosse um decreto. Mas o que essa frase realmente faz? Gerar ansiedade.
Sim, o sono muda. Sim, o cansaço bate forte. Mas você se adapta. Existem formas de organizar a rotina, dividir tarefas e garantir que nenhum dos dois fique sobrecarregado. Além disso, cada bebê tem um ritmo. Alguns realmente acordam de três em três horas, outros dormem bem logo nos primeiros meses. Então, não adianta perder o sono agora por algo que ainda nem aconteceu.
3. “Homem não tem instinto paterno”
A ideia de que as mães “sabem o que fazer” enquanto os pais precisam de instruções é um dos maiores mitos que existem.
A paternidade é um aprendizado como qualquer outro papel na vida. O vínculo entre pai e filho cresce com o tempo e a convivência. Ninguém nasce sabendo trocar fraldas, acalmar um bebê ou entender o choro da madrugada. Isso se aprende na prática, e cada pai desenvolve suas próprias formas de cuidado.
4. “Você nunca mais vai ter tempo para nada”
Dizem que, depois do bebê, seus hobbies, seus amigos e qualquer tempo livre simplesmente deixam de existir.
A rotina muda? Muda muito! Mas isso não significa que sua vida acabou. O segredo está na organização. Tirar um tempo para um café com um amigo, praticar um esporte ou até assistir um jogo de futebol não só é possível, como também importante para sua saúde mental.
5. “Se você não sabe o que fazer, pergunte para a mãe”
Essa frase reforça um dos maiores problemas da paternidade: a ideia de que o pai é um mero ajudante e que a mãe é quem realmente sabe cuidar do bebê.
Os dois estão aprendendo juntos! O pai não precisa “pedir permissão” para tomar decisões. Se a mãe pode aprender como acalmar o bebê, escolher uma roupinha ou preparar uma mamadeira, o pai também pode. Paternidade é parceria, não assistência.
6. “Aproveita para dormir agora, porque depois…”
Ok, essa é um pouco verdade. HAHAHAHA.
Brincadeiras a parte, o seu sono vai mudar. E é fundamental se preparar pra isso, principalmente nos primeiros meses.
Com o tempo, os bebês vão dormindo mais, se adaptando a rotina que existia na casa.
7. “Ter um filho fortalece o casamento”
A ideia romântica de que um bebê une ainda mais o casal pode criar expectativas irreais.
A paternidade fortalece a relação? Sim, mas depois de MUITO teste de resistência. O cansaço, as novas responsabilidades e as mudanças na rotina podem gerar atritos. O que faz a diferença é a parceria, o diálogo e a compreensão de que ambos estão no mesmo barco.
8. “Você nunca mais vai ter paz”
Dizem que depois que o bebê nasce, o conceito de tranquilidade simplesmente deixa de existir.
A rotina realmente vira de cabeça para baixo, mas o caos não dura para sempre. Bebês crescem, as noites começam a ficar mais longas, e as coisas entram em um novo ritmo. A grande sacada é aprender a enxergar os momentos de paz dentro da bagunça.
9. “Se preparar para ser pai é perda de tempo, porque na hora você aprende”
Muita gente encara a paternidade como algo que simplesmente acontece, e que não adianta estudar ou se preparar.
Se isso fosse verdade, não existiriam cursos, livros sobre paternidade e pesquisas sobre o assunto. Se preparar faz TODA a diferença. Quanto mais você aprende, mais seguro e tranquilo você se sente quando o bebê chega.
10. “Pai de menina é mais cuidadoso, pai de menino é mais brincalhão”
Essa ideia vem do estereótipo de que pais precisam proteger meninas e incentivar meninos a serem independentes.
Cada criança é única, independentemente do gênero. O papel do pai é ser presente, cuidadoso e brincalhão com todos os filhos, seja menino ou menina. A paternidade não precisa ser limitada por rótulos ultrapassados.
Conclusão
Se tem uma coisa que ninguém te conta antes de você se tornar pai, é que não existe um único jeito certo de viver a paternidade. Existem desafios, inseguranças e dias em que você se pergunta se está fazendo tudo errado. Mas também existem aqueles momentos que fazem tudo valer a pena — o primeiro sorriso, o jeito que seu filho olha para você, a primeira vez que ele estende os braços pedindo colo.
A sociedade ainda trata a paternidade como algo secundário, como se os pais fossem apenas ajudantes ou coadjuvantes no desenvolvimento dos filhos. Mas a realidade é que pais são fundamentais. A presença, o carinho e o envolvimento fazem toda a diferença, tanto para o bebê quanto para o próprio pai.
E sim, a transição para a paternidade é difícil e confusa. O mundo muda de uma hora para outra, a carga emocional é grande e, muitas vezes, você pode sentir que ninguém entende o que está passando. Talvez você não tenha sido ensinado a falar sobre sentimentos, a demonstrar cansaço ou a admitir vulnerabilidade. Mas aqui vai um segredo: tá tudo bem não saber de tudo. Tá tudo bem sentir medo, tá tudo bem precisar de ajuda.
A grande verdade sobre a paternidade é que ninguém está 100% preparado para ser pai. Não importa quantos livros você leia, quantos vídeos você assista ou quantos conselhos você receba. Você vai errar, aprender e crescer junto com seu filho.
Então, se em algum momento você se sentir sobrecarregado, frustrado ou inseguro, lembre-se: você não está sozinho. Todos os pais já passaram (ou estão passando) pelo mesmo turbilhão que você. E no meio do caos, entre uma madrugada sem sono e um fralda vazando, você vai perceber que está, sim, fazendo um trabalho incrível.
A paternidade não é sobre perfeição. É sobre presença, amor e aprendizado diário. E isso, meu amigo, vale mais do que qualquer conselho furado que te disserem por aí. 😉
